O dia 20/05/2024 foi uma exceção depois de dias de instabilidade e de até uma pequena enchente do Rio Itajaí Açú… Foram mais de 10 dias na espera do melhor dia, até tínhamos marcado para domingo, porém a chuva atrasou e remarcamos para segunda. A hora do nado foi definida para as 3:30h com a largada no Araçá/Caixa d’aço ao lado do Restaurante do Pipoca, foram quase 4 horas de nado noturno. A temperatura da água estava 20°C porém a temperatura externa estava baixa, para isto usei da faixa de Neoprene na cabeça para ter mais conforto e sentir menos frio. A lua estava linda se pondo sobre Meia Praia, uma noite muito limpa sem nuvens. O veleiro me acompanhando com uma equipe fantástica a bordo, 2 empresas de sustentabilidade, 2 socorristas, 2 capitães, 1 comandante Professor Orestes que projetou o veleiro, meu técnico e o fiscal da federação. Cheguei bem na praia grossa, após 10km nadando (uma maratona) começo a me sentir numa Ultra parece que tudo começa a fluir, ao passar pela praia da Ilhota me deu muita vontade de sair para comer uma Tainha Grelhada, como não era ainda a hora do almoço kkk resolvi continuar. Passei pelas praias do Estaleirinho, Estaleiro e Taquaras muito feliz, essa parte é muito linda, o mar estava calmo pude admirar cada cantinho. Ao chegar em Laranjeiras resolvi olhar meu relógio e vi que pelas distâncias iríamos passar dos 36k um pouco, como já fazia 7 horas que estava nadando resolvi negociar com meu técnico para irmos direto para o Morro do Careca, não consegui o apoio deles e tive que ir até a ilha das Cabras. Essa hora foi muito crítica, faltava muito ainda para chegar… as dores no corpo tomam conta, tive muita vontade de colocar meus pés em algum chão, a sensação de ficar mais de 7horas sem apoio nenhum, só flutuando, e de certo modo contraindo muitos músculos para permanecer na superfície da água. Meus braços estavam bem, estava treinada para bem mais do que 20km o que mais pegou foram as dores no quadril e o mal estar gastro-intestinal por ter (infelizmente) ingerido água do mar provavelmente poluída. Nadei até a Ilha das Cabras com muitas dificuldades, foram 5km duros para chegar, dar a volta na ilha foi mais um desafio, o bote teve que se afastar por causa das pedras e o Veleiro também por causa da laje de BC e ao contornar me deparei com um vento leste batendo, o que fazia com que engolisse mais água ainda.
Passar pelo morro do Careca era mais um desafio, não chegava nuncaaa. A Brava, é Brava como sempre… fiquei com bastante receio das lajes e das pedras, naquela hora lembrei que já estava quase em Itajaí e comecei a negociar para sair na Brava e assim não precisar pegar o farol de Cabeçudas que era um ponto muito crítico e que eu conhecia muito bem, pois treino lá praticamente todo final de semana. A federação liberou para que eu saísse na Brava, porém estava com muita onda e fiquei com receio de pegar toda aquela arrebentação depois de ter nadado mais de 35km, e passar vergonha na frente dos surfistas que com certeza iriam se divertir em ver uma mulher saindo embolada nas ondas. kkk Resolvi continuar na força, sei lá que força… não tinha mais nada em mim, só a vontade de chegar em Cabeçudas.
A temida ponta do Farol de Cabeçudas, quantas vezes cheguei perto e dei meia volta, contornar essa ponta com 30 e tantos kms nadados com certeza foi a coisa mais absurda que já fiz na vida. Logo senti o Rio Itajaí Açú gelado e muito barrento, com muitos resíduos na água e a corrente contra fiquei tentando vencer o ponto de junção da Maré Vazando + Rio na Lateral, foi 1hora e 15min tentando sair daquele ponto crítico. Entrei em Cabeçudas com a vazante me puxando para fora, vazante de uma lua quase cheia onde sempre as marés são mais fortes. Naquele momento lembrei do meu grande objetivo que era me aliar à natureza e eu estava lá, lutando contra. Perdi minha motivação mental, provavelmente eu iria gastar mais 1 a 2 horas para terminar os 800m que faltava. Eu tinha nadado próximo de 38km devido a pequenos desvios durante o nado, sempre acabamos nadando a mais.
Subi no bote, com muito frio o Socorrista logo fez os primeiros socorros. Tive que colocar a manta térmica e tentar me aquecer o mais rápido possível. Voltamos para o veleiro ECO da UFSC, onde pude tomar uma ducha quente, com a água aquecida pelo dia lindo de sol. A Costa Verde e Mar foi nadada, senti cada uma das 16 praias de perto, cada braçada minha tinha o propósito de tentar gerar a consciência que todos somos capazes de mudar a nossa história e mudar essa onda de destruição da natureza. Nadei pelos Gaúchos, nadei por um mundo mais sustentável e regenerado. Nadei para que todos tenham a sua Versão mais Sustentável.
Este texto é uma republicação autorizada pela autora SANDRA KOCH – @sandrareginakoch