Senhoras e senhores, este ano vai ser disputada a nonagésima nona São Silvestre, em São Paulo, a mais tradicional corrida de rua na América do Sul e uma das mais tradicionais no mundo.
Assim de cabeça, que eu me lembre, só é superada pela Maratona de Boston, que começou um ano depois da Olimpíada de Atenas, a primeira da era moderna, em 1896.
Este ano deveríamos ter a centésima edição da São Silvestre, mas isto não vai acontecer porque a prova deixou de ser realizada em 2020, por causa da COVID.
Então, creio que é tempo de começar a pensar no que deverá ser feito para que no ano que vem a prova tenha um brilho especial.
E aqui quero dar uma ideia, que é a de reviver a tradição (a moderna imprensa brasileira diria “resgatar”, em mais um de seus modismos) da São Silvestre noturna, marcando a passagem de um ano para o outro, entre o dia 31 de dezembro e o 1 de Janeiro.
Afinal, amigos, foi assim que a São Silvestre nasceu, como prova noturna, pela iniciativa de seu fundador, Cásper Líbero, que tinha na imprensa da época uma coluna chamada Gazeta Esportiva, depois transformada em jornal.
Como tal, como evento noturno, a São Silvestre foi disputada até 1988. Em 1989 passou a ser corrida durante a tarde e, pouco mais de dez anos depois, de manhã.
A verdade é que nem a versão vespertina nem a matutina tem o charme da São Silvestre noturna pelas ruas de São Paulo. Eu sei porque corri uma das provas noturnas. Você começa em um ano e acaba no outro.
Essa era a ideia original de Cásper Líbero. Ele queria até que os corredores disputassem a prova carregando tochas, mas confesso que não sei se isto alguma vez chegou a ser feito.
Já sei que vão dizer que a São Silvestre não pode mais ser à noite, por causa da televisão, dos patrocinadores, do marketing e uma porção de outras desculpas.
Mas então por que no ano que vem, com a centésima São Silvestre, não fazem ao menos uma versão noturna, revivendo a velha tradição do Réveillon?
Podem por na rua a São Silvestre de manhã, se quiserem. Mas deveria ter também uma versão noturna, mais ou menos simbólica, revivendo os velhos tempos.
Convidem nomes famosos do passado, como a hexacampeã Rosa Mota, que ainda está por aí, com seus 65 anos, e em forma para correr. O mexicano Arturo Barrios, por onde anda? Ele, Rosa Mota e outros fariam uma festa que serviria também para homenagear grandes nomes do passado, campeões da São Silvestre, que já se foram, como Emil Zatopek, a Locomotiva Humana.
E, gente, que tal dar a quem participasse dessa prova especial as tochas noturnas com que Cásper Líbero, o idealizador da São Silvestre, queria que ela fosse disputada?
José Inácio Werneck é a autor do texto e está no CLUBE DO MOVIMENTO como JOSÉ INÁCIO WERNECK