Rio de Janeiro – Confesso que exultei. Fiquei satisfeito, satisfeitíssimo com a vitória de Carlos Alcaraz sobre Novak Djokovic na final de Wimbledon, nem tanto por ter em ancestral pé na Espanha, mas porque não aguento mais aquelas intermináveis esperas a que todo mundo está sujeito na hora em que Djokovic vai sacar.
Toin, toin, toin, toin… lá fica Djokovic quicando a bolinha de encontro à grama de Wimbledon, o saibro de Roland Garros ou o acrílico do US Open.
Já para não ralar no piso também duro do Aberto da Austrália, de onde ele foi deportado há quase dois anos depois de, sempre como um chato, insistir em não se vacinar contra a Covid. Está bem, há regras para dar um tempo limite ao jogador na hora de sacar. O problema é que, com o cartaz que tem, Djokovic fica lá – ploin, ploin, ploin -, não respeita as regras e raramente recebe uma advertência. Punição, então, nunca. Agora porém ele foi jogar na terra do rei Charles. E acabou derrotado pelo novo rei, o rei Carlos. O espanhol Carlos Alcaraz, de 20 anos. Que Djokovic é um grande jogador, nem há dúvida. Mas seus saques intermináveis, seus desaparecimentos para longuíssimas incursões ao banheiro quando sente que o jogo não vai correndo como ele gostaria, sua arrogância ao querer desrespeitar, na marra, a necessidade de se vacinar antes de entrar na Austrália – tudo isto contribui para fazê-lo não só um grande atleta, mas um grande chato. Um chato atlético. Wimbledon por sinal nos deu, além da chatice de Djokovic, uma oportunidade de refletir sobre outra atitude anti-esportiva, com as vaias da torcida local a jogadoras da Rússia e da Bielorrússia por causa da invasão da Ucrânia.
Está bem, ninguém está aqui para apoiar invasões, mas será que o público de Wimbledon e o do US Open, onde tais manifestações também ocorreram no ano passado – será, repito, que esse público já refletiu que nem a Inglaterra nem os Estados Unidos são grandes exemplos em questões de respeitar direitos de outras nações?
Que tal parar um pouco para pensar no Presidente George W. Bush e no Primeiro-Ministro Tony Blair? Sim, aqueles mesmo da invasão do Iraque? Não foi há tanto tempo assim, não é mesmo?
Se formos mais longe no passado, podemos nos lembrar de Francis Drake, um pirata tão sanguinário, mas tão sanguinário, que merecia acabar na forca mas acabou mesmo com o título de Sir e – dizem – acesso aos aposentos privados de Elizabeth Primeira, a “Rainha Virgem”.
Já para não falar dos Estados Unidos que, levando-se em consideração apenas os tempos mais recentes, de 1950 para cá, conduziram quase 200 “intervenções militares” em países estrangeiros.
José Inácio Werneck é a autor do texto e está no CLUBE DO MOVIMENTO como JOSÉ INÁCIO WERNECK