Neste artigo, Catarina Ganzeli Wrinkler, compartilha seus pensamentos com a gente…a transição de entendimento de quem já foi atleta profissional, e, agora, procura constantemente o equilíbrio entre ser atleta amadora e sua atual profissão.
“Fui atleta profissional por mais de 10 anos. Meu trabalho era a natação e eu era paga e vivia para descansar, treinar e dar resultados em competições.”
Todo o atleta que é profissional e é pago por uma instituição, é para competir e dar resultados, todos sabem muito bem disso. Eu sempre amei muito essa rotina, essa vida, mas a gente sabe que tem prazos, não é pra sempre. Então quando chegou uma fase da minha carreira que estava muito estagnada, eu estava há 6 anos repetindo os mesmos resultados, eu falei…puxa …eu ainda nem sei o que quero ser na minha vida profissional, fora do esporte, tenho que começar, no mínimo, a me jogar … E aí foi o momento que eu vivi essa transição, em 2016.
Quando se é atleta profissional e vai pra esse outro lado da vida, as coisas ficam perdidas… Hoje sei que me encontrei, na área da comunicação, dentro da Swim Channel.
Eu desempenho muitas funções diferentes na empresa na qual eu trabalho. Eu gosto disso, não gosto de fazer sempre a mesma coisa, isso seria maçante pra mim, me daria vontade de mudar, então eu tenho a oportunidade de trabalhar todos os dias com algo novo, algo diferente, além da minha rotina e também tenho a possibilidade de estar treinando bastante todos os dias.
Como uma pessoa que já foi atleta profissional, vivo um drama de me cobrar muito no esporte e hoje não tenho a mesma responsabilidade que já tive um dia, então se hoje eu não for bem em uma competição, só vou magoar a mim mesma. Hoje invisto muito dos meus recursos para conseguir praticar um esporte, não ganho mais dinheiro para isso, hoje só invisto. Então, equilibrar essas coisas na mente de quem um dia viveu do esporte, é um caminho muito complexo.
Tem dias que vc vai estar lá, cumprindo as suas responsabilidades de trabalho com excelência e isso vai invadir o espaço do seu esporte, mas quando você ama muito este espaço…ah… não quero me atrasar pro treino … não quero ter que mudar o meu treinamento por conta de uma reunião… Isso você vai fazer, esse trabalho é o que te sustenta, acho que todo mundo tem clareza disso, mas vai doer muito ferir o seu treino. Então, eu sinto que estou nesta fase da vida e eu conheço muitos colegas, muitos mesmo, que não foram atletas profissionais, que também vivem esse drama, pessoas até que começaram a praticar o esporte, já numa maturidade, com mais de 30 ou 40 anos e que hoje ficam loucos se ficarem um dia sem treinar, ficam muito preocupados quando ficam com uma gripe e não desempenham bem no treino, então… eu vivo essa fase. Eu sinto que é muito importante de eu compartilhar aqui, é que todas as vezes que eu estou nesse desequilíbrio, sinto que estou me cobrando muito com o esporte, de uma forma que tira a principal razão de ele estar na minha vida, eu tento resgatar isso, eu falo, poxa… eu faço esporte por prazer, eu faço esporte pra me sentir bem, pra me sentir feliz. Então, se em algum momento eu sinto que a tensão que eu mesma gero com o esporte dentro da minha rotina está me prejudicando, eu não estou sabendo usá-lo como uma ferramenta do bem na minha vida, porque ele tem que estar aqui pra me dar prazer, pra me dar alegria. Não estou dizendo que tem que treinar fraco, não sentir dor, não é isso, estou falando do significado…

Recentemente me vi forçada a me afastar dos treinos, peguei uma virose, mas, felizmente não perdi nenhuma viagem, nenhuma competição, consegui trabalhar normalmente, que é minha obrigação do dia e queria sim estar nadando e remando de paddleboard no mar, aqui perto de onde moro, mas por mais que eu queira, se eu não estiver com saúde, não poderei remar nos outros dias. Se eu não remar hoje, não vai afetar em nada a minha vida financeira, enfim…de nenhum dos ângulos…então não posso ficar nessa “noia”, porque isso me faz mal, faz até com que eu demore mais pra me recuperar. Então pra fazer as coisas com excelência, refletir, olhar pra dentro de si e saber porque você está fazendo cada coisa…
Para termos equilíbrio, é preciso saber: “vou repousar porque preciso cuidar da minha saúde…ou… não vou treinar hoje porque tenho uma reunião que será fundamental”, inclusive para eu arrecadar recursos para poder participar das competições e eventos que eu gosto tanto, de poder ver meus amigos, de usar meu novo equipamento, inclusive para comprar o equipamento, preciso trabalhar.
Quando você começa a entender as razões e os significados, isso vai ficando claro na sua mente, essa pressão vai se dissolvendo e a vida vai ficando um pouco mais leve, porque o esporte, a competitividade, não traz tanta leveza assim. A gente sabe que a cobrança, a tensão, elas podem até dar alguns desequilíbrios de humor, de comportamento com as pessoas ao seu redor e isso não é legal pra ninguém, pois todo mundo quer ser uma pessoa legal na roda né!?
Ser um colega legal de trabalho ou uma pessoa legal dentro da sua família, com o seu pai, sua mãe, com seu parceiro, com seu filho, com seu pet. Então se a gente começa a se cobrar muito, se tensionar muito por algo que é uma obrigação, de nós para com nós mesmos, que é o esporte, e não estou falando do dia da preguiça… quero ficar em casa e estou sofrendo pra ir treinar… Não, estou falando quando realmente você precisa criar um pouco esse lado, de que você não vai receber dinheiro por isso, simplesmente prazer e alegria e se não estiver sendo assim, então, dá pra administrar melhor isso aí. Sinto que essa é minha reflexão do dia, aí pra quem estiver aqui “imerso” comigo em meus pensamentos! Se gostar pode me mandar um recadinho, principalmente pra Ale, que está fazendo o movimento “esporte e conecta”, que está sendo maravilhoso pra todos nós.”
Catarina Ganzeli Winkler é a autora do texto e ex- nadadora profissional, atualmente atleta master de natação paddleboard, e Gerente Comercial da Swim Channel
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