Uma das grandes tolices da moderna imprensa esportiva brasileira é a mania de escrupulosamente escrever os nomes dos times italianos como se lá estivéssemos, na terra de Dante Alighieri.
Digo, a propósito, que o próprio Dante não daria a mínima atenção ao assunto. Até onde sei, nunca se interessou pelo Calcio Fiorentino. Eram peladas verdadeiramente dantescas (perdão, não pude resistir à piada), mas nenhuma delas ganhou menção na Divina Comédia, embora algumas jogadas merecessem gargalhadas.
Sim, parece que ao tempo do grande poeta já se disputavam partidas na Piazza Santa Maria Novella, em Firenze. Ele porém estava mais interessado nas “belas letras”, não em “gols de letra”.
Dizem que alguns Papas, como Clemente VII, Leo XI e Urbano VIII, davam suas botinadas
O que não havia era o VAR para infernizar (perdão de novo) Suas Santidades, nem juízes, nem analistas de tática e nem jornais para falar do Sassuolo ou do Perugia.
Faço esta introdução para dizer que, quando comecei a trabalhar em jornais, nos idos de 1960 (sim, o tempo passa) as redações esportivas brasileiras falavam dos times italianos como se estivessem se dirigindo a um público… brasileiro.
Sim, é natural. Você está no Brasil, escreve para os brasileiros.
Havia um time a que os jornais se referiam no feminino. Era a Fiorentina, da cidade de Florença.
Sim, era apropriado, uma questão de naturalidade. Fiorentina, de Florença, como Portuguesa, de Portugal.
Mas os demais times iam para o masculino. O Juventus de Turim, o Inter de Milão, o Nápoli, de Nápoles, o Verona, de Verona, e assim por diante.
Mas alguém descobriu que o Juventus Football Club, na Itália, por razões que só aos italianos interessam, tinha e tem o apelido de “La Vecchia Signora”, a Velha Senhora. Era uma espécie de piada, faziam graça do Juventus, que vem do latim e significa Juventude, chamando-o de “Velha Senhora”.
Ora, no Brasil, sempre existiu o time do Juventus, em São Paulo. Era e ainda é “o” Juventus, querendo significar que se trata de um clube, de um time.
Mas as redações esportivas, procurando mostrar sapiência (ou servilismo) começaram a se empenhar em descobrir como os italianos se referiam a seus times.
Queriam e ainda querem ser mais italianos do que brasileiros.
Então agora somos obrigados a saber que o Spezia é chamado Lo Spezia (alguém se importa?), enquanto o Cosenza é Il Cosenza e o Crotone é também “Il”, ao passo que o Empoli pode ser simplesmente L’Empoli e o Perugia é Il Perugia, enquanto o time do Cremonese…, este não, este tem que ser La Cremonese.
E daí?
Porca Miseria!, como certamente diria Dante ao chegar às portas do Inferno.
José Inácio Werneck é a autor do texto e está no CLUBE DO MOVIMENTO como JOSÉ INÁCIO WERNECK