A Maratona do Rio, em junho, será anfitriã de três médicos enviados pela “World Athletics”, a antiga Federação Internacional de Atletismo, que darão um curso e dirigirão um Simpósio sobre cuidados a serem tomados por organizadores e participantes em provas de longadistância.
Desde já, quero chamar a atenção dos ilustres doutores para um estudo que abrangeu os resultados das principais maratonas do mundo: as de Berlim, Boston, Nova York, Londres e Chicago. O estudo abrangeu também a Maratona de Paris, que ainda não chegou ao patamar das acima citadas mas está perto.
Os pesquisadores mostram que o clima, com temperaturas baixas e pouca umidade do ar, é fundamental para a obtenção de boas marcas e também para a saúde dos participantes.
Quanto mais rápido o corredor e a corredora, mais importante será para eles disputar uma prova com temperaturas baixas, pela simples razão de que, por serem mais rápidos, geram mais calor em seus organismos.
O estudo abrangeu 1 milhão e 800 mil atletas que completaram 60 provas das acima citadas.
Uma parte curiosa do estudo mostra que o tempo exigido para alguém se classificar entre os 25% dos participantes mais rápidos dessas provas era de 3 horas e trinta e um minutos quando a temperatura era de seis graus centígrados, mas subia para 3 horas e trinta e nove minutos quando a temperatura era de 16 centígrados.
Quer dizer: coletivamente, os resultados eram mais lentos.
De um modo geral, incluídos tanto os corredores rápidos quanto os lentos, cada nove graus centígrados de elevação de temperatura em uma prova piora os resultados gerais em nove por cento.
Não precisamos ir muito longe para constatar isto: basta examinar os resultados, muito fracos, da recente Maratona de São Paulo, que começou com a temperatura em 18 centígrados e terminou com o termômetro acima dos 30 graus.
Só isto deveria alertar os organizadores da prova quanto à conveniência de mudar a data do início de abril para fins de julho, quando as temperaturas são mais baixas na cidade.
Sei que muitas vezes os organizadores de competições precisam se adaptar a exigências dos governos onde as provas são realizadas. Um exemplo típico parece ter ocorrido com o Triathlon do Rio, que costumava ser disputado no Pontal, ao fim da praia do Recreio dos Bandeirantes.
O triathlon, como meus ilustres leitores certamente sabem, tem como etapa inicial um percurso de natação. A praia do Pontal e, do outro lado da Pedra do Pontal, a praia do Recreio dos Bandeirantes, estão entre as mais limpas do Rio de Janeiro, por serem de mar aberto.
Mas parece que a administração da cidade do Rio de Janeiro proibiu o Triathlon no Pontal e o resultado é que recentemente a prova foi disputada na Baía de Guanabara.
Como, senhoras e senhores? Na poluidíssima Baía de Guanabara? Aquele mesma que nossas autoridades vêm prometendo despoluir desde a chegada de Dom João VI ao Brasil, fugindo de Napoleão Bonaparte?
Sim, a mesma. A situação já era catastrófica quando o Rio sediou a Olimpíada de 2016 e, de lá para cá, só fez piorar.
Mas foi lá mesmo que se realizou o mais recente Triathlon do Rio de Janeiro. Choveu na véspera, o que só fez aumentar a quantidade de detritos levados pela enxurrada para dentro da Baía. Mesmo assim os valentes participantes mergulharam em suas águas escuras. Entre braçadas e pernadas, o mínimo com que tiveram de se haver no percurso foram cocôs flutuantes. Imaginem o resto…
José Inácio Werneck é a autor do texto e está no CLUBE DO MOVIMENTO como JOSÉ INÁCIO WERNECK